sexta-feira, 24 de junho de 2016

ENTREVISTA ....”A QUATRO MÃOS”

Vamos conhecer mais de perto a história de vida e de missão da irmã Almerita Ramos, brasileira, Missionária Comboniana no Congo, Togo e Benin.

Lembrando que o Congo é um país situado no centro-oeste do continente africano. O país abriga diversos grupos étnicos, fato que impulsionou uma guerra civil durante a década de 1990, provocando a morte de mais de 10 mil pessoas. A maioria dos habitantes vive da agricultura e da pecuária, principalmente a de subsistência. É rico em minerais: diamante, cobre, cobalto e petróleo, exportados pelo 80% no exterior. Grave é a exploração minerária. Os problemas sociais detectados no país são, segundo os últimos dados da ONU: mal nutrição:  22% dos habitantes são subnutridos; a taxa de mortalidade infantil é alta: 79 para cada mil nascidos vivos; a falta de escolarização: o índice de analfabetismo é de 19%; e de serviços básicos: os serviços de saneamento ambiental são destinados a apenas 20% das residências.
O Togo um território pequenino de cerca de 100 quilômetros de largura, está localizado na região oeste do continente africano. A situação de instabilidade política reflete na economia nacional, que é pouco desenvolvida e tem a agricultura como principal fonte de receitas. Mais da metade dos togoleses vive com menos de 1,25 dólar por dia, quantia considerada insuficiente para suprir as necessidades básicas de consumo do ser humano. Esse fato reflete no alto índice de subnutrição (37%), na baixa expectativa de vida (58 anos) e na alta taxa de mortalidade infantil (70 para cada mil nascidos vivos).
O Benin é um pequeno país localizado no oeste da África vizinho do Togo. O Benin foi um dos maiores entrepostos de escravos entre os séculos XVII e XIX. Muitos deles foram trazidos para o Brasil, introduzindo elementos na cultura brasileira. A feijoada e o acarajé fazem parte da culinária beninense, e o vodu, prática religiosa da maioria da população, é semelhante ao candomblé. A principal atividade econômica desenvolvida no país é a agricultura de subsistência. O norte do território beninense é a região mais pobre. No Sul, a pesca e a agricultura sustentam a economia. 

Ir. Almerita, conta-nos algumas curiosidades sobre os países aonde desenvolveu o seu trabalho missionário.
São países muitos diferentes entre eles. Mas tem em comum várias características positivas como a acolhida, a alegria, o sentido da festa e da dança. São essas características que ajudam as pessoas a encontrar sentido para poder enfrentar as dificuldades e os problemas do dia a dia. 
A religião tradicional é muito forte. Sobretudo no Benin e no Togo se vive muito a realidade do sincretismo. Muitos vão à igreja, mas também precisam ter a presença constante, nas decisões da vida, do “feiticeiro” local. Este dualismo causa muito medo e desconfiança. Respeitando os tempos e os costumes a nossa presença é mesmo anunciar a libertação integral dos seres humanos, para libertar o povo dessas correntes de crenças que não ajudam ao bom viver e á fraternidade.
Enfim muito forte é também a “exploração familiar” de quem na família alcança ter uma profissão e um salário fixo: ele é procurado por todos os familiares por que tem o “dever” de sustentar a todos. Para nós que vemos as coisas de outro ponto de vista e de outra cultura tudo isso parece uma exploração, mas para eles é uma obrigação.

Qual foi a lição que aprendeu da vida missionária? Conta-nos umas experiências marcantes.

Uma experiência foi aquela do Congo. Minha primeira missão, meu primeiro amor.  Você chega e quer salvar o mundo. Mas depois colocando bem os pés no chão se embate com a vida e a sabedoria do povo. Lembro-me da acolhida e do respeito para o hóspede. É sagrado! Sempre se recebe, quando se visitam as famílias, um banquinho para sentar e um copo de água para beber. Quando vinha alguém nos procurar estávamos tentadas logo de saber o que a pessoa queria, tínhamos pressa. O povo me ensinou o respeito pela pessoa e pela mensagem que traz. É importante sentar-se com ela, não ter pressa e esperar para ouvir a motivação da sua vinda.
Outra experiência importante foi a vida fraterna e apostólica na comunidade das irmãs. Quando cheguei no Congo éramos todas jovens e de nacionalidades diferentes. Primeira coisa, antes de planejar, nos sentamos para partilhar ás nossas experiências e os nossos sonhos. A partir daí, fizemos a nossa programação. No projeto de vida colocamos como gostaríamos de desenvolver a nossa vida de consagradas naquele contexto.  Importante foi cultivar a relação entre nós com sinceridade, contando-nos a verdade, e avaliando-nos cada mês. Vivi em um clima de muita abertura, acolhida, ajuda. Cada irmã tinha um ministério, mas trabalhávamos juntas, e para o povo ver a nossa união, ajuda e colaboração recíproca foi uma grande evangelização. E eles se perguntavam como era possível ter deixado os nossos países e como era possível viver juntas sendo de diferentes nacionalidades.
Tivemos também uma boa relação com os Combonianos e leigos locais com avaliação e programação juntos a cada mês e eucaristia com partilha semanalmente.
Quando cheguei ao Congo tínhamos poucos catequistas, só 8. Após 8 anos foi um orgulho e uma alegria ver formados 40 catequistas. Antes de ir embora o vice-presidente do conselho paroquial me disse: “Irmã, a senhora trabalhou como homem! ”. Isso foi o maior elogio que se pode fazer á uma mulher num contexto onde a mulher era ainda muito discriminada. 
Sempre me vem na mente o texto do evangelho que diz: ” ...Todo aquele que tiver deixado casas,  irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher,  filhos, e o seu país por amor de meu nome, receberá cem vezes mais, e herdará a vida eterna”. E foi mesmo assim, desprender-se para encontrar até o cêntuplo. Foi a melhor acolhida que recebi na minha vida. Sempre que nos íamos visitar uma comunidade, encontrávamos o melhor. Água quente, comida, cama. O povo estava disposto a nos oferecer, o melhor que tinha, até a própria cama, para que a irmã e o padre ficassem à vontade. Uma grande lição de amor fraterno. 

Quais projetos desenvolveu aí?

Formação de catequistas. Através do projeto “compra um livro”, ajudamos a desenvolver o gosto pela leitura e o desejo de se formar. A paróquia comprava os livros de formação que revendia a um preço menor e mais accessível. 
Criação de uma escola de corte e costura Esperança-“Mokpokpo”. Foi uma maneira para desenvolver a dignidade da mulher. O programa da escola ia além do corte e costura. Tínhamos vários cursos: alfabetização, educação cívica, catequese, gestão, educação física, promoção da mulher para ser independente etc....
Projeto com os jovens. O objetivo desse projeto foi ajudar o jovem a tomar consciência da necessidade de se abrir para acolher a si mesmo como ele é, ao outro e com uma visão de abertura para as necessidades do mundo. Foi uma experiência positiva em todos os sentidos tanto que o projeto continua também se as irmãs não estão mais aí.

Quais foram os maiores desafios ?

Procurar entrar na cultura sem fazer em seguida aquilo que tínhamos propostos. Esperar com paciência que eles também sentissem a necessidade daquilo que se propunha. Antes saber escutar: a necessidade vem do povo. O nosso trabalho é estimular, encorajar, abrir os olhos e acompanhar o povo.

Onde você achou mais fácil levar Jesus e por quê?
Foi mais fácil no Congo pela língua (Francês e Lingala que já conhecia) e pela questão que era mais jovem. Ali os missionários foram mais acolhedores e nos ajudaram a inserirmos com mais facilidade na realidade do povo.
Foi mais difícil no Togo e no Benin a causa da língua (precisava de um tradutor para poder falar as línguas locais) e não houve uma introdução na realidade para nós que chegávamos. Embora isso, não nos impediu de anunciar e testemunhar com alegria o Cristo ressuscitado.

Uma palavra de incentivo aos nossos seguidores...
Precisa ter uma grande confiança em si mesmo, no outro e no Deus que chama. Essa confiança em si mesmo me ajuda a desabrochar meus dons e o que quero fazer desses dons. Só assim vai aparecer o desejo de encontrar o gosto de viver e o desejo de ser feliz. Só quem se doa é feliz!!!!. Jovem coragem, vale a pena!.

Muito obrigada ir. Almerita pelo testemunho de vida e de trabalho missionário. Vamos torcer para que você possa voltar logo na terra do seu coração.

Ir. Giusy Lupo
Missionária Comboniana






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